terça-feira, 11 de maio de 2010

Em meio a negociações, Reino Unido pode ter governo "até o final da semana"

O primeiro-ministro Gordon Brown anunciou que deve deixar a liderança do Partido Trabalhista ainda este ano
O gabinete do premiê britânico e líder do Partido Trabalhista, Gordon Brown, disse que os trabalhistas vão se reunir na próxima quarta-feira para discutir a situação das negociações sobre uma possível coalizão com o Partido Liberal Democrata. Isso indica que o Reino Unido ainda deve enfrentar ao menos mais dois dias de impasse político.

O porta-voz dos liberais democratas, Simon Hughes, havia dito mais cedo nesta segunda-feira que um acordo entre partidos era improvável nas próximas 24 horas, mas sugeriu "um governo até o final da semana".

Negociadores liberais democratas reuniram-se com trabalhistas na noite desta segunda-feira por cerca de uma hora, segundo a rede britânica BBC. Ed Balls, secretário de Educação do Reino Unido e um dos negociadores do Partido Trabalhista, classificou as conversas como "positivas e construtivas".

Os parlamentares liberais democratas se reuniram na sequência, por volta das 21h30 GMT (18h30 em Brasília) desta segunda-feira, meia hora após o previsto, tentando avaliar as propostas. "Vamos tentar deixar tudo o mais claro possível o mais rápido possível", disse Clegg, ao chegar ao encontro.

Após uma das eleições britânicas mais imprevisíveis das últimas décadas, que deixou um Parlamento sem maioria (chamado de "hung Parliament"), membros dos partidos Conservador e Trabalhista disputam o apoio dos liberais democratas para formar um novo governo e tirar o Reino Unido desse cenário político incerto

É a primeira vez desde 1974 que as eleições britânicas terminam sem um partido com maioria no Parlamento.

Com todos os 649 distritos apurados (o último será decidido somente em 27 de maio), os conservadores venceram com 306 cadeiras, contra 258 dos trabalhistas e outras 57 dos liberais democratas. Os outros partidos elegeram 28 representantes.

Como nenhum partido conseguiu os 326 assentos necessários para governar sozinho, a saída é uma coalizão com os demais partidos. Nesta lista, os liberais democratas despontam como o centro das atenções.

Renúncia de Brown

Também nesta segunda-feira, o primeiro-ministro e líder do Partido Trabalhista, Gordon Brown, anunciou que renuncia à liderança da legenda ainda este ano, "sacrificando-se" para tentar facilitar as negociações entre os trabalhistas e o Partido Liberal Democrata, de Nick Clegg.

Gordon Brown não disse exatamente quando deixa a liderança do Partido Trabalhista, mas disse esperar que um novo líder tome posse até a conferência anual do partido, no final de setembro.

"Clegg acabou de me informar que, embora pretenda continuar a dialogar com o Partido Conservador, ele agora quer também uma conversa com o Partido Trabalhista", disse Brown a jornalistas nesta segunda-feira.

"Não pretendo continuar em minha posição mais do que o necessário para garantir o crescimento econômico e o processo de reforma política", disse Brown.

"Como líder de meu partido, devo aceitar que [o resultado das eleições] é um julgamento sobre mim. Eu pretendo pedir ao Partido Trabalhista que coloque em curso o processo necessário para eleger sua nova liderança", acrescentou.

Nas mãos de Clegg

Falando após a declaração de Brown, o líder dos liberais democratas, Nick Clegg, disse que a decisão de Brown de jogar a toalha "é um importante elemento que poderia ajudar a garantir uma transição suave a um governo estável que todos merecem".

Trata-se de uma decisão difícil para o partido de Clegg. As eleições gerais da última quinta-feira (6) deram ao Partido Conservados um mandato mais convincentes do que ao Partido Trabalhista, mas os liberais democratas e os conservadores divergem em vários assuntos importantes.

Por outro lado, seria estranho manter os trabalhistas no poder após seu mau desempenho nas eleições. Uma coalizão entre Partido Trabalhista e Liberal Democrata ainda não teria maioria no Parlamento, e exigiria apoios de outros partidos nanicos.

Historicamente, a aliança óbvia seria entre os liberais democratas e os trabalhistas, ambos de política progressista e que já trabalharam juntos no último governo de coalizão britânico --há 36 anos, sob líder trabalhista Harold Wilson.

Desta vez, contudo, analistas indicam que as chances maiores são de uma coalizão entre liberais democratas e conservadores, que teriam a seu favor maior votação popular.

Proposta conservadora

O Partido Conservador britânico afirmou nesta segunda-feira que fez uma "proposta final" de uma coalizão formal com o Partido Liberal Democrata, como parte das negociações entre os dois partidos para formar um novo governo no Reino Unido.

Segundo a BBC, o líder do Partido Conservador, David Cameron, telefonou para o líder liberal democrata, Nick Clegg, pouco depois das 20h locais (16h em Brasília) para oferecer a "proposta

"Estamos fazendo uma oferta de boa fé ao Partido Liberal Democrata para um governo estável, forte, com uma maioria considerável no Parlamento, em coalizão, e um referendo sobre o sistema alternativo eleitoral", afirmou um negociador dos conservadores, George Osborne.

Os conservadores propõem um referendo sobre um sistema eleitoral com "voto alternativo", em que os eleitores listem os candidatos em ordem de preferência. Esse sistema daria ao Partido Liberal Democrata mais assentos no Parlamento --mas não seria a revolução para chegar à representação proporcional.

Segundo o sistema de representação proporcional --muito adotada na Europa--, os liberais democratas, com quase um quarto dos votos em todo o Reino Unido, teriam essa proporção das cadeiras do Parlamento. No atual sistema eleitoral britânico, eles levaram apenas 57 dos 650 assentos, ou 9% das cadeiras.

O porta-voz conservador e um dos negociadores, William Hague disse que parece improvável que os conservadores tentem governar sem a maioria no Parlamento --um cenário que é permitido por lei. Ele também disse que os eleitores podem não querer ter um segundo líder não eleito --Brown ganhou o cargo das mãos do ex-premiê Tony Blair, mas não foi ele mesmo eleito.

Segundo Hague, os conservadores ofereceram aos liberais democratas uma coalizão total, com cargos no gabinete para a equipe de Clegg e um pedido para não convocar novas eleições nacionais por pelo menos dois anos e meio.

Apesar de os conservadores terem oferecido realizar um referendo sobre a mudança no sistema eleitoral britânico, Hague disse que o partido deve tentar persuadir o público contra quaisquer reformas.

Cameron e Clegg se falaram na tarde desta segunda-feira, mas não havia outros encontros planejados, segundo Hague.

Com Reuters

Folha Online

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