sábado, 17 de abril de 2010

Situação econômica global favorece retomada das negociações de Doha, diz OMC

- BRASÍLIA - O secretário-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, afirmou neste sábado, 17, que apesar do ambiente político desfavorável à retomada das negociações da rodada Doha, o cenário econômico mostra que os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão saturaram as possibilidades de impulsionar seus mercados internos e irão precisar do comércio internacional para funcionar como motor do processo de recuperação econômica.

Diante dessa situação, Lamy considera possível que as negociações da rodada de liberação do comércio sejam reiniciadas ao final da cúpula do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), que se dará em novembro em Seul, na Coreia do Sul. O diretor-geral da OMC reuniu-se na manhã de sábado com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no Palácio do Itamaraty.

O chanceler brasileiro concordou com a avaliação do dirigente da OMC. Amorim, entretanto, destacou que para uma retomada das negociações será preciso que os Estados Unidos retirem a "demanda fora de propósito" de abertura adicional dos mercados industriais das economias em desenvolvimento. Para o ministro, a vitória do Brasil na controvérsia envolvendo a política dos EUA de subsídios ao algodão pode estimular os americanos a colocar a rodada de volta ao topo de sua agenda externa.

"Se os Estados Unidos tivessem contribuído para a conclusão da rodada em julho de 2008, não enfrentariam este problema do algodão e estariam se beneficiando de abertura comercial a seus produtos", afirmou Amorim. "Eu espero que a moeda caia para as pessoas que tomam as decisões (nos Estados Unidos). Só espero que não demore muito", acrescentou o chanceler brasileiro.

Depois de sete anos de disputa, a OMC garantiu ao Brasil o direito de aplicar retaliações contra os Estados Unidos por conta dos subsídios concedidos por o Washington aos produtores de algodão. O valor da retaliação estabelecida pela OMC é de US$ 830 milhões, sendo que as sanções sobre o comércio de bens americanos alcançarão US$ 560 milhões e os US$ 270 milhões restantes poderão ser aplicados sobre propriedade intelectual.

De acordo com Lamy, os Estados Unidos têm de cumprir com as regras da rodada Uruguai, de 1994, e estarão sujeitos a cortes ainda mais profundos em seus subsídios agrícolas na negociação da rodada Doha. Para ele, o cumprimento das determinações da OMC sobre a controvérsia do algodão facilitará ainda mais o cumprimento de uma decisão final da rodada Doha por parte de Washington.

Amorim deixou claro que o Brasil não abrirá mão de seu direito de retaliar os Estados Unidos, mas dependendo do acordo em negociação com os americanos, essa medida poderá ser suspensa a partir da próxima quarta-feira, 21 de abril.
Denise Chrispim Marin, de O Estado de S. Paulo

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