sábado, 31 de outubro de 2009

Com a bênção do pré-sal

A Marinha entrou na lista de agraciados com a expansão de quadros no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Projeto de lei encaminhado pelo Executivo ao Congresso cria 21.507 cargos para a Força, passando o efetivo de 59 mil para 80.507 militares. Sem previsão orçamentária específica, a proposta - que começaria a ser implementada em 2010 - está criando polêmica.

Entre as justificativas apontadas no projeto para o reforço no efetivo está a exigência de maior presença naval nas águas para a defesa das plataformas de exploração de petróleo no mar, "pela perspectiva de início da exploração dos campos do pré-sal".

Os militares têm se movimentado para garantir a aprovação do aumento dos cargos ainda este ano. A pressão fez com que o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) solicitasse um parecer técnico à Consultoria de Orçamento e Finanças da Câmara sobre a viabilidade da proposta.

A nota evidenciou falha que se tornou comum nos projetos que tem essa finalidade: a faltade previsão orçamentária. "Já estão gastando por conta do pré-sal, como se houvesse a garantia de que ele representará uma imensa fortuna para o país", comentou Madeira, sobre o projeto.

A Constituição diz que o aumento de cargos ou salários só poderá ocorrer quando contar com destinação prévia de recursos. O Orçamento da União para 2010 não está fechado.

O projeto de lei que irá estipular os gastos para o próximo ano ainda está em tramitação - sequer o relatório preliminar foi apreciado. "O PL 5916/2009 (número da proposta) não cumpre o determinado pelo texto constitucional", diz o documento, explicando depois que a exigência que consta na norma só poderia ser cumprida se, no orçamento aprovado para o ano que vem, houvesse garantia de recursos para a ampliação dos quadros da Marinha.Diante do impasse entre a necessidade do governo e a Constituição, os parlamentares buscam uma solução.

"Vejo com boa vontade o projeto, porque sei que entre os militares ninguém vai nomear dirigente partidário. Mas temos que ver se é possível encontrar uma solução para isso. Infelizmente a lei é burlada, a começar pelo Executivo e pelo próprio Congresso", criticou Madeira.

A Marinha garante que os 21,5 mil cargos seriam preenchidos ao longo de 20 anos, e que o reforço é necessário diante do aumento de atribuições. A Força também argumenta que não houve crescimento significativo do efetivo nas últimas quatro décadas - 8,6% em média, ao ano.

"Com a aprovação será dado início a obtenção desse pessoal, possivelmente a partir do próximo ano, quando serão abertas, em média, 218 vagas para oficiais e 771 para praças, por ano",

informou a Marinha ao Correio. O projeto estipula a criação, ao todo de 3.507 oficiais e 18.000 praças. A expectativa do governo, com a implementação gradual dos quadros é um impacto, nos três primeiros anos, de R$ 27.9 milhões em 2010, R$ 72.1 milhões em 2011 e R$ 118.5 milhões em 2012.Administração - A criação de cargos na estrutura da administração pública federal é alvo de constantes críticas da oposição.

Segundo estudos do deputado Arnaldo Madeira, desde o início do governo Lula foram criados cerca de 214 mil cargos. Como o discurso de que a estrutura está inchada não cola no eleitorado, os oposicionistas decidiram colocar na ponta do lápis a qualidade da gestão desses cargos no governo. "Vou apresentar requerimento para saber quanto desses cargos foram preenchidos.

O governo diz que criou quadros para universidades, mas sabemos que, apenas entre esses, 30 mil ainda estão vagos", afirmou Madeira. O governo se defende. Diz que não está promovendo o aparelhamento da máquina, mas sim investindo na qualidade da administração pública federal.

Daniela Lima // danielalima.df@dabr.com.br

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